Diário Catarinense traz reportagem de capa sobre o BOPE

Confira abaixo parte do conteúdo da Clipagem desta terça-feira:

 

MISSÃO CAVEIRA: COMO SE FORMAM OS SUPERPOLICIAIS

Após 5 anos sem abrir uma nova turma, a Polícia Militar de Santa Catarina retomou a preparação de homens para integrar o Batalhão de Operações Especiais da corporação em um treinamento de guerra que totaliza três meses. Dos 36 que foram selecionados para participar do curso, apenas 21 ainda resistem

Quatro dias foram suficientes para 15 dos 36 policiais aptos fisicamente cravarem uma cruz no cemitério e desistirem de ir adiante no mais rigoroso e exigente teste da Polícia Militar de Santa Catarina: o curso para a entrada no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). O último curso para entrada no Bope foi em 2009. O clima interno nos últimos anos sempre foi de expectativa pela abertura das inscrições, envolvendo desde praças a oficiais do Estado.
Agora, os 21 obstinados restantes ainda vão precisar de muita resistência e força psicológica para completar os três meses de treinamento, a grande parte em local rústico e em meio à mata, incomunicáveis e distantes de contato com familiares, para se tornar um caveira, o símbolo do pelotão de elite da corporação.
O Diário Catarinense acompanhou algumas horas do árduo caminho que os policiais militares interessados em atuar no Bope – no total mais de 120 se inscreveram – estão percorrendo desde 29 de julho, num dos raros momentos de abertura da área de estágio a quem não é aluno ou instrutor.
Era o quarto dia de atividades num sítio que fica entre Palhoça e Paulo Lopes, na Grande Florianópolis. O silêncio da paisagem verde contrastava com a entonação dos cânticos durante a movimentação da tropa, enfileirada, empunhando uma carabina calibre 12 e com mochila de 20 quilos nas costas.
O semblante de cansaço era visível, assim como o caminhar torto diante das prováveis bolhas nos pés nos poucos comandos de descansar. Os instrutores afirmam que é algo comum nos primeiros dias de pouco sono e intensos exercícios. Afinal, todos os que estão ali são verdadeiros atletas, com grande vigor físico.
O cenário de treinamento lembra o clássico filme policial Tropa de Elite, de 2007: um quadrado enlameado, homens posicionados sem esboçar qualquer sorriso, o capitão falando ao pé do ouvido, rosto sem mexer nem um músculo sequer. No máximo ouve-se os dizeres “não senhor, sim senhor”.
A bronca foi geral aos alunos quando, ao colocarem a arma no chão, um barulho se fez, num suposto desleixo de largá-la abruptamente. Mas houve também instantes de brincadeira dos comandantes e outros de surpresa:
– “33, pode tirar as pedras da mochila! Ouviu, 33?” – esbravejava um instrutor.

UM SIMBÓLICO FIM AO SONHO
Cada aluno carrega uma cruz e a lápide. Ninguém é obrigado a ficar no curso, lembram os instrutores à reportagem. Se optar pela desistência, o ato de enterrar a cruz marca a despedida antecipada e o fim do sonho de integrar a elite. O cemitério fica bem visível ao lado do campo.
Superar o frio da madrugada e o sono são os desafios nos primeiros dias. O despertar começa cedo, às 6h, e as missões e orientações costumam ir até a madrugada do dia seguinte. Nas poucas horas de descanso e sono – todos ficam numa mesma barraca – ainda é preciso fazer a barba, limpar os objetos pessoais e a arma.
O banho é no rio. Não há banheiro. Ambientes assim são impostos para deixar o aluno próximo da realidade. Em SC, por exemplo, não são raros os casos de caçadas a quadrilhas que se embrenham dias na mata em fuga.

Prova de força mental

A formação tem três fortes vertentes: foco no homem, no armamento e treinamento constante. Segundo os instrutores e capitães do Bope Jorge Echude e Lucius Carvalho, o curso trabalha a capacidade de resistência, senso de inteligência, liderança, o lado emocional e a capacidade de raciocinar sob pressão. E o psicológico é o mais difícil. Eles têm que sair dali com a certeza de que serão mais fortes do que o criminoso.
São abordadas, por exemplo, técnicas de sobrevivência, de patrulha e de abordagens. Algo também enfatizado é o voluntariado e o espírito de equipe, assim como as condutas éticas do policial.
O curso é eliminatório e classificatório. Os alunos não são policiais apenas de Santa Catarina, também vêm de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Piauí, graças a um intercâmbio. Têm em média 26 anos. Ao final, estima-se que o índice de desistência alcance 70%.
As principais missões do Bope são intervenções e operações de resgate de reféns em áreas urbanas ou rurais, combater o tráfico de drogas e o crime organizado estadual, patrulhamento em locais de alto risco, captura de criminosos em áreas de difícil acesso, ocupação, manutenção e retomada de pontos sensíveis.

BOPE FORMOU ATUAL COMANDANTE

O curso é desenvolvido justamente quando um ex-comandante do Bope está à frente da PM em Santa Catarina, o coronel Valdemir Cabral, que fundou o batalhão e o liderou por três anos.
– É a nossa Swat (grupo tático de elite das polícias americanas), um grupo de qualidade, bem treinado, com preparo psicológico e físico diferenciado para operações de altíssimo risco – compara.
O grupo atua com equipamento, armas e técnicas diferenciadas. Ali estão, por exemplo, o sniper (atirador de elite), o especialista em explosivos e o negociador em ocorrências com refém, cuja média é de dois casos por mês.
As demandas principais no Estado para emprego dos policiais têm sido as que envolvem a utilização de explosivos por quadrilhas que assaltam caixas eletrônicos. Também as ações de captura desses criminosos.
O comandante diz que o longo período sem o curso se deu em razão do déficit no efetivo geral, o que acabaria ampliando o desfalque. Se tornou possível agora diante da reposição de cerca de 3 mil policiais nos últimos anos. Além disso, Cabral ressalta a necessidade de renovação da tropa, pois há policiais no batalhão com mais de 20 anos de serviço.
O comandante do Bope, tenente-coronel Marcelo Cardoso, lembra que a tropa tem atuado em operações em cidades que enfrentaram aumento repentino da criminalidade, como Chapecó e Navegantes, além das ocupações do Morro da Caixa e da comunidade Chico Mendes, em Florianópolis.

 

* Extraído do DC de 05.08.2014.

 

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