A PARTIDA DE UM AMIGO

 

 

O despertar deste frio sábado de agosto teve um sabor aziago. Uma mensagem despertou-me para a morte. A morte que faz parte da vida. Uma morte prenunciada, mas inaceitável. Partiu o nosso companheiro de jornada Hilton Hubert Pickler, Coronel da reserva da Polícia Militar Barriga-Verde. Tive a honra de recebê-lo como jovem Aspirante-a-Oficial no 8° Batalhão de Polícia Militar de Joinville. Desde o tradicional banho de óleo queimado na cerimônia de admissão à Unidade Operacional até as últimas missões que cumprimos juntos, formávamos, com os demais Oficiais daquele Batalhão, uma irmandade una, inquebrantável. Havia elã, coragem, honra, ética, destemor, desejo de servir cegamente à sociedade oprimida. Não tínhamos hora, fenômenos climáticos, qualquer barreira capaz de nos deter. Fomos Policiais Militares na verdadeira acepção da palavra, de corpo e alma. Exercemos em plenitude o “Poder da Polícia” e o “Poder de Polícia”, sem tergiversarmos. A história registra o momento em que o Major PM Schauffert, o Capitão PM Hilton e o Cabo PM Celso acabaram com uma greve da Fundição Tupy. Determinada hora da noite, o Cap Hilton ligou para minha casa informando que havia um Oficial de Justiça no Batalhão com um “Interdito Proibitório” que precisava ser cumprido imediatamente. Pedi cinco minutos para vestir a farda, armar e equipar. A viatura encostou defronte o meu apartamento e deslocamos para o Bairro Boa Vista. Uma vez no local, procuramos a liderança do movimento, cientificamos do documento judicial e negociamos a retirada dos três carros de som que estavam diante dos portões da metalúrgica. Medi pelo odômetro da viatura da PM os 150 metros de distância que deveriam ser cumpridos. Conversamos com os piqueteiros, retiramos as faixas e abrimos os portões da fábrica. Em determinado momento, do carro de som postado diante do portão principal, emanaram ofensas à Polícia Militar catarinense. Avisei ao Cap Hilton e ao Cb Celso de que iria subir no caminhão de som e solicitar um aparte para defender a honra da nossa Corporação. Galguei a escada e dirigi-me a um dos lideres solicitando espaço para falar. Soube mais tarde que o Cap Hilton disse ao Cb Celso o seguinte: “O Major Schauffert  endoidou. Vamos ser linchados e mortos por essa multidão em fúria”. Depois de uma série de manifestações, passaram-me o microfone, momento em que sofri uma fragorosa vaia. Porém, quando iniciei a falar, as caixas de som eram tão potentes que emudeceram as vozes de milhares de manifestantes. Defendi a Corporação como uma instituição pacífica, comunitária e que, muito embora tivesse cerca de 1.000 homens de prontidão no quartel, estava ali em farda de passeio e desarmado. Citei o caso de “Eldorado dos Carajás”, deixando claro que não repetiríamos ato similar. Caso algum sangue tivesse que escorrer pelas sarjetas, seria daquele Oficial que discursava. Fui ovacionado por aquela multidão, momento em que imediatamente disse o seguinte: “Os portões estão abertos, a greve está encerrada, quem quiser entrar para trabalhar pode fazê-lo imediatamente”. Todos entraram para cumprir o turno de serviço, deixando as lideranças boquiabertas. Entreguei o microfone para um sindicalista e desci a escada do caminhão tremendo como uma vara verde. Embarquei na viatura GM Kadett juntamente com o Cap Hilton e o Cb Celso e pedi para que me deixassem em casa. No caminho de volta, olhei para o banco traseiro e vi aquele largo sorriso estampado no rosto de criança do Hilton. Este sorriso, tive o prazer de revê-lo acompanhado de minha esposa na tarde de 3 de agosto do ano em curso, num quarto hospitalar. Pude repetir a dose em 5 de agosto, acompanhado do Cel PM R/R Adriano, naquele mesmo nosocômio. O nosso companheiro de jornada evolutiva na Terra sempre foi eternamente jovem. Nunca envelheceu e jamais morrerá, pois seus feitos audazes permanecerão povoando as nossas mentes e os nossos corações. O Hilton sempre foi humilde, solidário, fraterno e viveu intensamente cada minuto presente da sua vida como se fosse o último. Oficial de boa cepa, deixa saudade, mas muitas histórias para contarmos.

  FRED HARRY SCHAUFFERT

Cel PM R/R Presidente da ACORS

      

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