Dezessete policiais paulistas mortos para cada policial norte-americano igualmente tombado: uma realidade triste, chocante e inexplicável de não ser amplamente divulgada e conhecida…

 

Dezessete policiais paulistas mortos para cada policial norte-americano igualmente tombado: uma realidade triste, chocante e inexplicável de não ser amplamente divulgada e conhecida…
George Felipe de Lima Dantas — 29 de outubro de 2012
 
 
Na última semana de outubro de 2012 a mídia brasileira deu ampla repercussão ao número de policiais militares mortos criminosamente no Estado de São Paulo. Foram 80 deles apenas nos dez primeiros meses de 2012 (em média, oito a cada mês). Mantida essa média de oito policias mortos em São Paulo a cada mês de 2012, é possível projetar em 96 o número dessas mesmas mortes até o final do ano. Não existem estatísticas nacionais, sejam elas oficiais ou não-governamentais, para mortes de policiais brasileiros. É possível fazer apenas estimativas, parciais ou locais, longe de serem números agregados das 54 polícias estaduais brasileiras (polícias civis e militares) e das duas polícias federais do país (Departamento de Polícia Federal — DPF e Polícia Rodoviária Federal — PRF).
 
 
Considerando que a população de São Paulo (dados do IBGE, Censo 2010) foi de 41.262.199 habitantes em 2010 e utilizando esse mesmo número como base demográfica, bem como a projeção de 96 policiais mortos em 2012 em São Paulo, chega-se a uma relação de um policial morto para cerca de 430 mil habitantes (429.814,57 mais precisamente). Sem ter acesso aos números de policiais mortos das demais polícias (civis e militares e polícias federais), é possível comparar São Paulo apenas com outros países. Por estranho que isso possa parecer…
 
 
Os Estados Unidos da América (EUA) produzem estatísticas confiáveis sobre mortes de policiais de todas as polícias norte-americanas desde 1920. Assim, é possível comparar as mortes de policiais de São Paulo, em 2012, com as ocorridas nos EUA no mesmo período.
 
 
As estatísticas parciais de policiais mortos nos EUA (até 28 de outubro de 2012) apontam uma cifra de 103 dessas mortes em 2012 e 136 no ano inteiro de 2011. Mantida a proporção corrente de cerca de 10 policiais mortos nos EUA a cada mês de 2012 (10,3 mais precisamente), é possível projetar a cifra de 124 (123,6 mais precisamente) dessas mortes até o final do ano de 2012. Considerando que a população dos EUA (dados do “Bureau do Censo” de 2010) foi de 308.745. 538 habitantes em 2010 e utilizando esse número como “base demográfica”, bem como a projeção de 124 policiais mortos em 2012 nos EUA, chega-se a uma relação de um policial norte-americano morto para cerca de 2,5 milhões (2.497.941,2 mais precisamente) de habitantes. Comparando os números projetados de mortes de policiais por habitantes, nos EUA e em São Paulo: em 2012 irão morrer seis policiais paulistas para cada policial norte-americano morto (em números exatos: 5,81), cifra resultante da divisão de 2.497.941,2 por 429.814,57).
 
 
A situação de São Paulo também parece bem diferente da norte-americana se for considerado que, enquanto já morreram 80 policiais naquela única unidade federativa do Brasil, a maior cifra estadual parcial de mortes de policiais norte-americanos em 2012 corresponde (até 28 de outubro), a oito policiais mortos no Texas. Em tal perspectiva, morrem dez policiais paulistas para cada policial texano também falecido (80 dividido por oito – em números reais e não os estimados). Ou seja, o número de mortes de policiais paulistas é proporcionalmente seis vezes maior que o de policias norte-americanos em geral, e dez vezes maior do que dos texanos especificamente. Note-se que o Texas é o estado dos EUA em que ocorrem mais dessas mortes em 2012. Isso em uma primeira abordagem geral, aproximada e sem equivalência específica. Procedendo um outro tipo de abordagem a situação brasileira/paulista fica ainda mais sombria.
 
 
Note-se que as 103 mortes de policiais norte-americanos em 2012 (até 28 de outubro) não são todas elas resultantes de homicídios, como parece ser o caso em São Paulo. Apenas 36 resultaram do uso de arma de fogo por criminosos, 45 ficaram por conta de acidentes de trânsito e 22“por outras causas”. Levando isso em conta, o número de 80 mortes de policiais em São Paulo (até o mês de outubro de 2012) pode ser comparado com 36 e não com 103 (total geral dos EUA até outubro de 2012). Se for assim considerado, e utilizando uma projeção sobre os 36 policiais norte-americanos mortos criminosamente nos primeiros dez meses de 2012, terão morrido 43 (43,2 mais precisamente) deles até o final de 2012. Indexando 43,2 pela mesma respectiva população utilizada nos outros cálculos (308.745. 538), tem-se um índice de um policial norte-americano morto criminosamente para cada 7,1 milhões de habitantes (7.146.887,45 mais precisamente). Disso resulta o cotejo de um policial paulista morto para cerca de 430 mil habitantes (429.814,57 mais precisamente) e um policial norte-americano para cada 7,1 milhões de habitantes (7.146.538,45). A relação passa a ser de 17 paulistas mortos (16,62 mais precisamente) para cada norte-americano.
 
 
O leitor, nesse ponto, deve estar confuso e cansado de tantos exercícios aritméticos e algébricos para chegar a tão tristes conclusões… Conclusões tristes para o país, para São Paulo, para a PMESP e, sobretudo, para as 80 famílias de policiais tombados, na circunstância que for, mas primordialmente, “por serem ou terem sido policiais”. As famílias, pior ainda, estarão perplexas diante da busca da determinação, surrealista, se a morte “ocorreu em serviço ou não”.Isso quando muitas dessas 80 mortes se devem, simplesmente, ao fato do assassinado ser policial, ter sido (já na inatividade), estando ou não escalado para o chamado “serviço ordinário”.
 
 
É digno de nota que não haja uma contagem precisa e rigorosa dos policiais brasileiros mortos. Isso acontece em que pese, inclusive, outro material do gênero deste, produzido pelo mesmo autor, datado de dez anos atrás, cotejando a mesma situação (Brasil e EUA) no não tão longínquo ano de 2002. De tudo isso, é possível concluir a falta de prioridade do tema, considerando desde os órgãos policiais classistas ou interinstitucionais (federações, sindicatos, associações, conselhos, etc.), até as secretarias estaduais e organizações congêneres do governo federal. – Que outra “prioridade política” pode ser maior do que honrar e prevenir mortes daqueles que tombam em nome do interesse coletivo, da nação, enfim do Brasil?
Uma realidade triste, chocante e inexplicável de não ser amplamente divulgada e conhecida…
 
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Prof.Doutor George Felipe de Lima Dantas
http://blogandoseguranca.blogspot.com/
deimadantas@gmail.com
George Felipe de Lima Dantas
(teclando da capital do país sede da Copa do Mundo de 2014 e dos 31ºs Jogos Olímpicos da Era Moderna — Olimpíada do Rio de Janeiro — 2016)

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